Suplemento Pernambuco

[O QUE LER DE] ELVIRA VIGNA
Schneider Carpeggiani
edição 92

Neste mês de março, estamos com a série #MesDeLutaDasMulheres, na qual indicamos diariamente livros de autoria feminina para nossos leitores. Algumas obras são menos conhecidas; outras, mais divulgadas.

A indicação de hoje é a obra de Elvira Vigna. Uma das escritoras mais inventivas do país, seu trabalho é marcado por um trato particular da linguagem e da memória. Nela, o que importa é como vemos o fato, e não o que ocorreu na realidade (o que, por si só, já seria alvo de questionamentos) – uma lembrança incerta vira a história. E o cuidado estético apurado: seu romance mais recente, Como se estivéssemos em palimpsesto de putas, é um épico irônico sobre os feitos de um sujeito incapaz de olhar a mulher como um Outro digno de atenção. Por ser uma epopeia, é estruturado em cantos. O título evoca essa proposta épica por ser estruturado em redondilha maior (7 sílabas poéticas).

É impossível indicar um único livro da autora. O que fizemos, então, foi propor um roteiro inicial de leitura ou releitura da sua obra. A seleção é do nosso editor, Schneider Carpeggiani.

Nada a dizer (2010) – Um livro sobre traição em que o marido adúltero não tem voz ao longo da narrativa. O processo de silenciamento é a via de recuperação que a autora oferece como espécie de compensação para a esposa traída. A morte da linguagem = a morte do sujeito. Uma obra que sedimentou o lugar de Elvira como uma das estilistas mais originais do país.

O que deu para fazer em matéria de história de amor (2012) – A vida oferece várias formas de se erguer uma história: pode ser um assassinato/ pode ser um relato amoroso, tudo depende do seu ângulo de observação. E também um dos começos mais fortes da literatura brasileira contemporânea – “Chega um cheiro de cigarro da mesa ao lado. Aspiro. Não fumo, nunca fumei, se me perguntarem, não gosto de cigarro, não perguntam, já sabem. No entanto, gosto. E podia parar por aqui. Porque é nisto que penso. Nessas histórias que parecem uma coisa e são outra. Se forçar a barra, chego no suspense, no será que. Por exemplo. Espero Roger. Já sei. Oi. Oi. E aí. Tudo bom. E, quando afinal ingressarmos no pós-introito, ele vai falar do Guarujá. De eu ir ao Guarujá. E eu vou dizer que não quero. E, no entanto, quero.”

Como se estivéssemos em palimpsesto de putas (2016) – De certa forma, esse romance condensa o pensamento literário que Elvira distribuiu em sua obra ao longo da última década. Estão aqui um suposto assassinato, uma observação ferina a respeito do mundo em que vivemos e uma série de personagens longe de casa, em relações superficiais ou simplesmente perdidos.