A verdadeira história de Asdrúbal, o Terrível, 1971-1983

ELVIRA VIGNA: INFANTIS – A verdadeira história de Asdrúbal, o Terrível (a coleção Asdrúbal, o terrível é composta de quatro livros independentes para ordem crescente de idade com várias edições individuais entre 1971 e 1983; inicialmente pela Bonde/INL-MEC, depois pela José Olympio e Miguilim; cada livro tem 78 páginas)
– edições especiais para o ‘Clube do Livro’ dos dois primeiros títulos, 1981;
– participação no programa salas de leitura da FAE, 1985, dos três primeiros títulos.

 

 

arquivos internos de ‘infantis’:
a breve história de asdrúbal, o terrivel
asdrúbal no museu
o triste fim de asdrúbal, o terrível
viviam como gato e cachorro
a pontinha menorzinha do enfeitinho do fim do cabo de uma colherzinha de café
uma história pelo meio
problemas com o cachorro?
lã de umbigo
mônica & macarra
o jogo dos limites – trecho
o jogo dos limites – oficina escolar

vitória valentina (graphic novel)

críticas

 

 

 

 

 

 

fora de catálogo, texto integral:

 

infaasdrubal02

 

Primeiro capítulo

O mundo tem muitos monstros. Tem uns mais conhecidos do que os outros, tem os que têm nome, retrato no jornal, tem os que só são vistos em pesadelos, sem nome nem cara que se descreva.

Pois no ano de 290 D.A. (D.A. significa Depois de Asdrúbal), na Floresta DumDum, já havia uns tantos que duvidavam que o monstro Asdrúbal tivesse realmente existido. Muitos falavam em lenda, outros mais maliciosos diziam que Asdrúbal não passava de um reles personagem aumentado e glorificado, só e unicamente para servir de herói a uma floresta sem heróis. Seria Asdrúbal, então, um mito inventado, com a única missão de embasbacar as gerações vindouras.

Não, meus amigos, não. Como cedo os fatos vieram demonstrar, o monstro Asdrúbal pertencia àquela categoria dos que têm nome, retrato no jornal, verruga e cacoetes. Asdrúbal existia, sempre existiu e ainda vai existir por muito tempo.
Verdade seja dita, a bem dos que então duvidavam de sua existência: os fatos precisos que, nesta época, se sabia a respeito de Asdrúbal eram poucos e ralos.

Sabia-se sua cor: amarela.

Sabia-se seus pés: muitos.

Sabia-se sua voz: horrível.

E isso era tudo o que se sabia a seu respeito. Sabia-se também de seu ódio a borboletas. Mas mesmo isso havia quem duvidasse. Uma lenda dizia – e muitos acreditavam nela – que em priscas eras, Asdrúbal teria tido uma rixa muito séria com uma borboleta azul, e que seu desaparecimento por tantos séculos tinha sido por causa deste aborrecimento.

Podia ser que fosse mesmo só lenda, não vou botar mais lenha nesta fogueira, mas se conhecendo o caráter do monstro em questão, não só era possível como mesmo muito provável que tal rixa tivesse mesmo acontecido, e tivesse sido feia.
Mas se tudo isso vem à baila, é porque há motivo. No começo do ano 290 D.A., notícias daqui e dali começaram a dar Asdrúbal como presente e atuante em festas de família (logo acabadas), em clareiras da floresta (agora desertos), em livrarias (falidas).
Os jornais, como sempre medrosos, noticiavam as novidades nas últimas páginas, com títulos pequenos, feitos em letra tremida. Mas, no de boca a boca, não se falava em outra coisa que não fosse a volta de Asdrúbal, o Monstro Amarelo.

A volta de Asdrúbal, 290 anos depois de seu desaparecimento por causa de uma briga com uma borboleta azul. E, meus amigos, é incrível, mas mesmo vendo tinha gente que duvidava, que preferia fechar os olhos e dizer que não viu.
Borboleta Azul Neta era uma dessas. Quando vinham lhe contar sobre a volta de Asdrúbal, o inimigo de sua avó, ela mudava de assunto e, se insistiam, mudava de flor, ia para outras bandas pensar em outras coisas. Coisas de borboleta: casulo furado e necessitado de conserto rápido, formigas nos agapantos, vento em demasia nos campos de margarida.

Mas se Borboleta Azul Neta não acreditava na volta de Asdrúbal, ou melhor, fingia não acreditar, havia também a elite dos bem informados que davam fé a esses diz-que-me-disses alarmistas.

A Tartaruga Submarina, a Coruja Russa, o Gato Pardo e Companhia eram os componentes deste grupo e, certos de que Asdrúbal afinal voltara, tentavam convencer os relutantes.

Em vão. Nessa época ainda muito pouca gente dava ouvidos a eles.

 

 

Segundo capítulo

Para entender bem como foi possível os acontecimentos pegarem tanta gente de surpresa, vamo-nos relembrar em minúcias de um dia em particular.

Dia 42 da estação de primavera do ano 290 D.A.

Tempo bom, domingo, a floresta dorminhoca bocejava um ventinho suave de quando em vez.

A Floresta DumDum acabava, nesta época, em uma praia de coqueiros e amendoeiras e, floresta e praia, tinham um riachim de pedrinhas brancas e peixes calmos. Onde a floresta começava ninguém sabia e, mesmo hoje, passados tantos anos, acontecidas tantas coisas, ainda não se sabe se este ou aquele tronco velho, se este ou aquele bem-te-vi triste é o começo legítimo.

A Tartaruga Submarina era tartaruga de mar e morava na praia. O Gato Preto era gato safado e vivia às custas de uma velhota, a pires de leite fervido e bife de filé mignon na manteiga, em uma casinha lá longe. A Borboleta Azul Neta era jovem e não tinha moradia fixa, mudando de casa em casa junto com seus amigos, de tempos em tempos, como fazem em geral as borboletas.

A Coruja Russa, no seu galho, há muito não dava um pio. A última vez que tinha falado, no verão anterior, respondera a um comentário trivial sobre o tempo com um:
— Outrossim, outrossim se foi.

Esta frase não foi compreendida pelo educado pardal que, ao passar, tinha tido a ideia de comentar sobre o calor reinante. E também não foi compreendida pelos que souberam da história depois. A frase ficou famosa, exemplo de alta filosofia, pérola das letras pátrias e fim obrigatório de discursos e pronunciamentos sobre economia. ‘Outrossim, outrossim se foi’ passou a ser citada com frequência nas rodas noturnas e estava para sair, em capítulos, um ensaio crítico com este título no suplemento semanal do Mundão da Floresta, jornalzinho politiqueiro e polêmico.

Foi a partir deste verão, ou mais precisamente dessa frase, que a coruja ficou famosa na Floresta DumDum e no mundo. Vem deste episódio a crença de que as corujas em geral são seres sábios. Como vocês veem, de muito pouca terra crescem as batatadas do conhecimento.

Mas, voltando à nossa Coruja Russa, ela ficou famosa. E, famosa, não mais tinha precisado abrir o bico, limitando-se a grunhidos vomitados do alto de sua casa de árvore sobre a massa, então e sempre, sedenta de saber.

Tanto faz para o decurso da história onde o resto da bicharada morava, se bem que, fique claro, todos eles fossem bichos de floresta ou, pelo menos, bichos que lá trabalhavam ou estudavam. Eram bichos comuns, de pelo e de pena, de miado alto e piado assustado. Uma lista breve: A Anta Nita, o Sapo Nando, o Pássaro Vermelho Real da Costa e Serra, o Crocodilo Aligátor (um imigrante americano), Madureira… Madureira era um macaco careteiro morador do bairro do mesmo nome e possuidor de casa de veraneio na praia.

Esses, os habitantes. O local, o ambiente, esse é mais difícil de descrever, pois floresta e floresta como era a Floresta DumDum é coisa já perdida na memória de cada um. Era grande, sim, com árvores, é evidente. Mas os cheiros, os sons, disso, infelizmente, não ficou registro fora dos sonhos que todo mundo tem, mas que variam de noite para noite e de travesseiro para travesseiro. Qual o sonho mais verdadeiro: o seu? o meu? Da Floresta DumDum perdemos tudo, exceto as fotografias. E nas fotografias vemos aqui e ali os marcos históricos, as estátuas dos generais famosos na luta entre Borboleta Azul e Asdrúbal. Temos fotos do Museu da Floresta nas quais se vê, com certo esforço, o célebre documento de incitação à guerra, feita pelos Ursos do Berro Forte. Esse documento, feito originalmente em plaquetas de mel, era todas as noites refeito pelos guardas do Museu, daí os mais céticos duvidarem de sua autenticidade. E quem começa duvidando de um documento acaba duvidando de tudo e de todos.
E, em caso de dúvida, o comum é pensar em outra coisa e esquecer o problema.
Foi por isso que, embora Asdrúbal aparecesse amiúde aqui e ali estragando coisas, os bichos da Floresta DumDum, acostumados que estavam a duvidar de tudo, duvidaram do que viam e não tomaram nenhuma providência.

No meio, bem no meio da floresta, a toca de Asdrúbal progredia.

 

 

Terceiro capítulo

Não que a toca fosse grande. Era mesmo uma toca mixuruca, considerando-se a importância e periculosidade do morador.

Em volta, o que se encontra em volta de todas as tocas: pedras, se o local for de pedras, árvores, se for toca de árvore, ou areia, no caso de toca de praia. No caso, era toca de pedra.

Tão comum, tão toca de todo mundo, que Gato Preto, Tartaruga Submarina, Coruja Russa e Companhia, eméritos Caçadores de Asdrúbal, não notaram essa simpleza e dirigiram suas buscas a cavernas mal-assombradas, nuvens carregadas, melancias podres, enfim, a coisas fantásticas, horrorosas ou pelo menos diferentes. Pois o que mais custa a entrar na cabeça das pessoas, em casos de aparecimento de Asdrúbal, é justamente essa sua aparência comum, cotidiana. Asdrúbal ao aparecer vem de mansinho, junto e dentro das coisas de todo dia. Não se vê.

Qual a graça de um monstro horrível ser tão comum? Não tem graça nem diferença. O que ninguém sabia, na Floresta DumDum, é que Asdrúbal morava, dormia e comia igual a todos eles. E foi graças ao seu igualzinho-a-todo-mundo que Asdrúbal conseguiu chegar até o ponto em que chegou, espalhando o terror e a falta de alegria a absolutamente todos os bichos da floresta.

A Floresta DumDum só se deu conta da presença incômoda e atuante de Asdrúbal quando o Monstro Amarelo atacou o local onde pernoitava a Borboleta Azul Neta.
Há versões que dão o despertar de consciência como fruto do Caso dos Papeizinhos. Outros preferem considerar a Noite dos Urros como o alarme geral. Mas não, a versão correta é a que fala do ataque à casa onde estava a Borboleta Azul Neta, às cinco horas da tarde do dia 12 de outono do fatídico ano de 290 D.A.

Foi, é necessário que se diga, um ataque mais para o inútil. Borboleta Azul Neta, como sempre de mudança, só veio a saber que Asdrúbal tinha aparecido em sua antiga residência duas horas depois. O ridículo desse insucesso é que leva tantas pessoas a acreditar que o início das hostilidades seja a Noite dos Urros ou o Caso dos Papeizinhos.
A Noite dos Urros é um fenômeno sem explicação. Na noite anterior ao ataque à Borboleta Azul Neta, alguns bichos ouviram uns urros horrendos por volta da meia-noite. Este fato, além de insignificante, não merece nosso crédito, pois a maioria dos habitantes da floresta era incapaz de distinguir trovões de urros horrendos, dada sua falta de experiência neste último som.

Já o Caso dos Papeizinhos tem argumentos mais fortes e sua importância no despertar de consciência dos bichos foi real, embora fortuita, como veremos depois.

O orvalho do dia 15 de outono trouxe bilhões e bilhões de papeizinhos retangulares, desses como se de cartão de visitas, só que absolutamente em branco. Eram papéis tampando buraco no chão, derrubando ninhos de ovos novos. O mar, com a superfície coalhada de papeizinhos, impedia os peixes de ver o azul claro do céu, limitando-os ao azul escuro do fundo. Os papeizinhos realmente prejudicaram todos os bichos da floresta. Não foi obra de Asdrúbal, mas bem que poderia ter sido.

Logo na manhã desse dia houve uma reunião na clareira da Coruja Russa, a qual se limitou a ensinar aos poucos que até lá tinham conseguido chegar um:

— Deus meu! Deus meu!

O repórter do jornalzinho Mundão da Floresta pegou rapidamente um dos bilhões de papeizinhos e anotou a volta aparente da Coruja ao seio do Divino, assunto de futuras e palpitantes reportagens. Mas de resto, o repórter continuou, tanto quanto os outros bichos presentes, a não saber o que fazer de tantos papeizinhos que causavam problemas cada vez mais evidentes de ecologia, manutenção da ordem pública e bem-estar social.

Além do fato de serem terríveis em sua total falta de lógica ou, trocando em miúdos, em sua total falta de letra. Papel sem letra, sem sujo, sem nada, Deus meu! Asdrúbal voltou e isso é coisa dele!

Mas não era.

 

Quarto capítulo

Asdrúbal, repetimos, tinha tanto a ver com a história dos papeizinhos quanto qualquer outro bicho da floresta e, como eles, estava mal-humorado e curioso com o acontecido.
Enquanto a reunião na clareira da Coruja Russa estrebuchava por falta de assunto, Asdrúbal estava sentado na porta da toca olhando estupidamente um dos papeizinhos. Olhava, olhava, se esforçava, mas não entendia. E o pior é que Asdrúbal amargurava-se com o pressentimento de que todos, exceto ele, já sabiam do que se tratava. Um antigo complexo advindo do hábito de seus colegas do Jardim da Malinfância lhe chamarem Asburro, impedia Asdrúbal de notar que desta vez não era culpa dele se havia um branco total no papel e na cabeça. Asdrúbal atoleimava.

Bem ao seu lado estava Companhia.

Ainda não falamos de Companhia. Companhia andava sempre com o grupo formado pela Tartaruga Submarina, Gato Preto e Coruja Russa e era uma pulga vulgar, gorda e fofoqueira, mas muito útil como transmissora de informações aos outros três. Companhia devia alguns favores ao Gato Preto, de quem tirava seu sustento e, em paga disso, procurava sempre mantê-lo bem informado. Essa pulga serviu de Correio e Telégrafos e de Arquivo Nacional por bom período da história da Floresta DumDum. Sabia de tudo e o que não sabia inventava. Exercendo essas atividades com ímpeto e senso de oportunidade, foi considerada por seus contemporâneos como repórter-modelo. Companhia teria sido mesmo convidada reiteradas vezes a fazer parte do corpo editorial do Mundão da Floresta mas recusava sempre alegando solidariedade ao famoso grupo de Gato Preto e seus dois amigos. Uma de suas frases:

— Não se pode servir a quatro senhores.

Outra de suas frases, menos retumbante mas mais explicativa:

— Mesmo porquê, detesto aquele corpo sem pelo.

Companhia se refere nesta frase ao corpo editorial, mais precisamente ao corpo do Sapo Nando, coordenador, diagramador, fotógrafo, linotipista e propagandista inconteste do Mundão. Sapo Nando tinha todas as ações do referido jornal mas nenhum pelo ou outro atrativo mais contundente que encantasse uma pulga.
Pois era uma pulga, e uma pulga do tipo que descrevemos, que Asdrúbal, ilustre e faceiro, tinha a seu lado durante a longa travessia pelos mistérios dos papeizinhos em branco. Vista do alto, Companhia consistia em uma  mancha marrom visibilíssima em cima de todo aquele branco.

Asdrúbal neste momento se agacha, pois a idade já o tinha tornado míope, mas ao reconhecer na mancha uma reles pulga, suspira de desilusão.

Por breve e delicioso momento Asdrúbal tinha julgado tratar-se de uma mensagem microgravada, de uma letra, de um sinal, de qualquer coisa que o permitisse entender o porquê daquela papelada.

Asdrúbal, tendo estado no exterior desde sua luta com a Borboleta Azul e chegado a pouco, desconhecia muitas coisas novas da Floresta DumDum, incluindo as qualidades de Mata-Hári da pulga na sua frente. Desavisado, deixou o inseto em paz, e foi graças a essa imprudência que até hoje muitos atribuem ao Monstro Amarelo a autoria do Caso dos Papeizinhos.

Pois Companhia, quando conseguiu se refazer do susto, foi correndo contar a todos os bichos o que todos os bichos queriam escutar: Asdrúbal, seguindo um plano diabólico, tinha espalhado aqueles bilhões de papéis. Em um futuro próximo, assegurava a pulga, Asdrúbal espalharia finos e mortais lápis pretos n° 2, o que então provocaria o fim do mundo.
Os papeizinhos, como hoje está constatado, foram fruto espúrio de um avião-propaganda desregulado. E a profecia dos lápis pretos, como vocês bem adivinham, nunca se concretizou.

 

Quinto capítulo

Os papeizinhos se desmancharam depois de algumas chuvas e a Floresta DumDum teria voltado ao normal, não fosse a expectativa de novas e calamitosas experiências. Já então se tinha passado algum tempo desde o ataque de Asdrúbal à casa da Borboleta Azul Neta, mas o Caso dos Papeizinhos, mais recente, se encarregara de manter em alerta o espírito do povo.

Tartaruga Submarina, Coruja Russa, Gato Preto e Companhia estavam no auge de sua popularidade, fazendo apresentações públicas nas quais a Tartaruga Submarina com uma bela e recém-descoberta voz de barítono, empolgava a plateia às custas de empostações dramáticas como a célebre:

Borboleta Azul Neta!

Original e Belo Inseto!

DumDum inteira te defenderá

Dos Amarelos Petelecos!

Sim, mas os chamados amarelos petelecos, desde o ataque à casa da Borboleta Azul Neta, não tinham mais dado sinal de vida, o que convenhamos gerava uma impaciência e uma frustração muito grande nos bichos pacatos, mas sedentos de distração.
Asdrúbal tinha consciência de que urgia fazer alguma coisa. Durante todo o período que se seguiu ao ataque à casa da Borboleta Azul Neta, exceto nos poucos dias de alvoroço durante o Caso dos Papeizinhos, Asdrúbal passou-o lendo manuais de combate e memórias de generais famosos. Um dos seus livros de cabeceira era o Estratégia de Waterloo em cinco lições ilustrado. No exemplar encontrado depois em sua toca, tem esta passagem marcada a lápis:

“É aconselhável o uso de vinte canhões em arco, cavalos ao centro alinhados pelos do inimigo. Dar preferência a terrenos em declive com pouca vegetação e não se esquecer da bandeira, utensílio essencial tanto na retirada estratégica quanto na vitória triunfante. Expressão a ser usada: aiêê silver!!!”

Gato Preto sabia, informado que fora pela pulga Companhia, que Asdrúbal repetia as palavras do livro sem pensar, como quem decora o nome das capitanias hereditárias ou a relação das 24 preposições. Mas, em uma reunião feita às pressas, a cúpula tinha decidido que esta falta de ímpeto do inimigo não devia ser tornada pública. Só Gato Preto, Companhia, a Tartaruga Submarina e a Coruja Russa sabiam que Asdrúbal, ou porque estava mais velho ou por qualquer outro motivo, cumpria os rituais de preparação para a luta mais por obrigação do que por prazer. Como soubemos de sua própria boca, em um de seus raros momentos de lucidez, Asdrúbal não estava, nesta ocasião, com a menor vontade de dar continuidade aos feitos napoleônicos, mas essa falta de vontade lhe produzia um agudo sentimento de culpa. Era um Asdrúbal, tinha que fazer alguma coisa que se assemelhasse a uma guerra, a uma maldade, para poder continuar a ter uma razão para viver.

Mas a verdade é que nos momentos anteriores à Grande Batalha, Asdrúbal se sentia só e desanimado. E também é verdade que os bichos da Floresta DumDum, embora ansiosos por uma calamidade qualquer que pingasse emoção em suas vidas, teriam se contentado perfeitamente com uma enchentezinha, uma praga nas goiabas ou mesmo uma gripe em alguém famoso.

A Grande Batalha aconteceu abalando a história com suas consequências trágicas, sem que houvesse ninguém, mas ninguém capaz de dizer que estava realmente disposto a lutar.

 

Sexto Capítulo

Se algum de vocês algum dia tiver oportunidade de falar pessoalmente com Asdrúbal, entenderá melhor o que significa um monstro envelhecer.

No dia da Grande Batalha, já lá se vão tantos anos, Asdrúbal já estava bem maduro e, embora vitorioso, não reconheceu em si mesmo a glória dos vencedores. Ele venceu, mas foi uma vitória ruim.

Os fatos foram os seguintes:

Asdrúbal vinha vindo por onde hoje é a Avenida Engenheiro Pedro Antunes com um embornal e uma rede de caçar borboletas de sua invenção, muito semelhante às usadas atualmente. Era manhã do dia 51 de outono de 290 D.A. e chovia.

É quando aparece distraída a Borboleta.

Seu aspecto não era mais o mesmo de algum tempo atrás. Desgrenhada, vencida pela angústia, os olhos vermelhos e o voar lento. Esse tempo a tinha transformado em uma neurótica, que via Asdrúbal em tudo que era canto e esperava um ataque em cada esquina.
Se olharam.

Asdrúbal pensou – alto, como é seu hábito: é ela. Tem a mesma cara de louca da avó.
Borboleta Azul Neta pensou: desta vez é ele.

Acontece que tanto Asdrúbal quanto a Borboleta não primavam pela rapidez de raciocínio, e quando a Tartaruga Submarina, o Sapo Nando, o Macaco Madureira e muitos outros bichos perceberam o encontro, tanto um quanto outra ainda estavam imóveis, quiçá se esforçando para dizer alguma tirada brilhante, uma frase épica qualquer que fosse digna de figurar nos anais da história.
Tiveram tempo e muito todos os bichos da Floresta DumDum para se acomodarem a contento naquela manhã chuvosa. Sapo Nando fez ponta em dois lápis, a Tartaruga Submarina acordou o Gato Preto e a Coruja Russa, o primeiro que acabava de ir para cama, a segunda que não mais saía de lá. Companhia pegou um lugar bem na frente.
A Floresta DumDum, malgrado sua famosa propensão para a paz, estava preparada. O grande espetáculo podia começar.

“Tomara que tenha bastante sangue”, murmurou Macaco Madureira, esquecido decerto que, em uma luta entre uma pálida borboleta e um monstro só amarelo, não havia a mínima chance de que isto acontecesse.

 

 

Sétimo capítulo

Antes de descrevermos a luta, preferimos apresentar uma gravura da época sobre o assunto. Notem bem a preocupação do artista – cujo nome não sabemos, pois ele esqueceu de assinar a obra – em mostrar a ferocidade dos dois adversários, usando para este fim a composição circular e o contraste entre luz e sombra.
(reprodução de A batalha de Curuzu, com o título de “O Sururu”)

 

 

Oitavo capítulo

No entanto, sabemos por testemunhas oculares e por provas irrefutáveis que a Grande Batalha entre a Borboleta Azul Neta e Asdrúbal, o Monstro Amarelo, não teve um momento sequer parecido com a cena mostrada, sendo o ímpeto e a sede de sangue dos adversários uma contribuição do artista à realidade. Bem que o Macaco Madureira em particular e a Floresta DumDum em geral gostariam de ter assistido momento tão excitante.
Não. A Grande Batalha foi luta de muita fala e pouco gesto:

— Saia do meu caminho, seu monstro repelente, que está chovendo e eu não posso tomar chuva.

— Sua … sua imbecil!

— Imbecil não! Imbecil não! Tenho meus direitos!

— Essa borboleta está é muito louca! Ou bebeu! Tá bêbada!

— Bêbada ou não bêbada, eu não arredo pé, tá ouvindo, seu hepatite ambulante? Não arredo!
— Calma, calma! (Aparte dado pelo Pássaro Vermelho Real da Costa e Serra – logo neutralizado por violento “não te mete, palerma”, dito pelo Macaco Madureira.)
— Pois se não arreda, azar o seu que cá vou eu!

E foi. Foi e sumiu. A borboleta Azul Neta também sumiu.

Aqui devemos fazer um aparte e explicar para os presentes algumas coisas a mais que sabemos a respeito de monstros.

Primeiro que eles não morrem, no máximo envelhecem, mas morrer não morrem. Segundo que eles viajam de um lugar para outro com rapidez incrível. Terceiro: monstros sempre vencem, mesmo quando parecem estar perdendo. Quarto e último: eles transfomam para sempre os lugares onde dão suas batalhas.

Ora, a Floresta DumDum já tinha sido palco de duas batalhas de Asdrúbal e nem precisava que ele tivesse voltado – como voltou – pela terceira vez para que a floresta se transformasse do jeito que se transformou.

 

Nono capítulo

Mas vamos por partes: na manhã chuvosa do dia 51 de outono do ano de 290 D.A., os bichos reunidos na clareira onde estavam até um minuto atrás Asdrúbal e Borboleta Azul Neta, levaram algum tempo para sair do estado de choque e perceber que os dois promissores combatentes tinham sumido simplesmente. No começo ficaram desiludidos, mas depois se consolaram, pois de Asdrúbal ninguém mesmo iria sentir falta e da Borboleta Azul Neta já se tinha ouvido muita reclamação sobre seus hábitos irregulares e sua mania de mudar de casa de cinco em cinco minutos.

Mesmo Sapo Nando, furioso porque mal tinha escrito a primeira linha (“a equipe de Mundão da Floresta esteve mais uma vez no próprio local da tragédia para dar informações realistas a seus queridos leitores.”), depois se consolou e acabou aproveitando a inspirada frase para a notícia sobre um pinheiro caído e que, não fora o sumiço de Asdrúbal e Borboleta Azul Neta, teria passado completamente despercebido.
Os bichos saíram aos poucos da clareira e aos poucos também os acontecimentos saíram das conversas. Desistiram, ao cabo de alguns dias, de buscas aos desaparecidos, e a vida voltou ao normal. Quer dizer, não voltou ao normal, modificou-se, mas na época ninguém ainda percebia que sua vida estava sendo modificada.
A primeira consequência da Grande Batalha na vida da Floresta DumDum foi a proibição contra as margaridas.

A floresta tinha a vida na maré mansa, embora na lembrança dos bichos ainda fremisse um medo sempre que um amarelo mais intenso aparecia. Depois foi a vez de rosas amarelas e sóis intensos ficarem terminantemente proibidos em todo o território florestal.
Algumas outras novidades logo se seguiram, advindas do natural decurso dos acontecimentos. A venerável anciã Tartaruga Submarina, respeitada por todos, teve uma queda de pedra, batendo as botas para consternação geral da população local. Verdade seja dita que nos últimos tempos dera para caducar um pouco, mas, contando-se seus muitos anos, esse detalhe além de corriqueiro nos parece mesmo inevitável.
Na Rua Gato Preto – outra consequência foi o aparecimento de ruas e endereços completos – n° 28, apt° 403 fundos, a Coruja Russa, cansada de seu mutismo, começou a dar aulas particulares de latim e grego para os filhos do Macaco Madureira, pirralhos impertinentíssimos.

O Sapo Nando foi exilado. Estava em Jasmim do Cabo desde o fim do outono de 290 devido à sua atitude pouco digna quando da morte de Gato Preto, mas preparava, diziam, sua volta, retumbante, à floresta.

A morte do Gato Preto não é uma consequência da Grande Batalha, embora tenha acontecido logo depois. Acontece que o Gato, ao manusear descuidadamente uma arma de fogo, tinha dado cabo à sua própria vida e a de sua velha protetora, além da vida de mais cinco bichos que se encontravam por acaso nas redondezas e a de Companhia. Este triste incidente, aumentado e distorcido, foi narrado com detalhes sangrentos no Mundão e Sapo Nando, conspurcado editor, foi acusado de provocar pânico na população da floresta com suas notícias capciosas e alarmistas, sendo banido incontinenti.

A Floresta DumDum, com ruas, sem sol nem flor, com seus bichos mais conhecidos defuntos ou entregues a ocupações rotineiras, já começava a ter o aspecto que tem hoje, embora com uma diferença: ninguém sabia, ninguém percebia que as transformações atingiam a floresta toda, de ponta a ponta.

Enfim, uma última consequência das batalhas que Asdrúbal travou em território da Floresta DumDum é que hoje não há mais borboletas azuis no mundo, a última de que se tem notícia é Borboleta Azul Neta, desaparecida desde a Grande Batalha sem deixar herdeiro.

 

Décimo capítulo

O desaparecimento da Borboleta Azul Neta foi coisa aceita sem maiores perguntas pelos bichos da floresta. Sumiu e pronto. Eram bichos acostumados a monstros e duendes, a sumiços e aparições. Hoje nós perdemos esta familiaridade com o fantástico, de modo que vou dizer a vocês o que, na época do desaparecimento, ninguém se preocupou em saber, isto é, para onde foi a Borboleta Azul Neta quando sumiu da clareira onde discutia com Asdrúbal, o Monstro Amarelo.

Como aconteceu, isso eu não sei nem ninguém sabe, pois é assunto da mais alta técnica monstrológica, vedada a nós, simples pessoas de cidade reflorestada. Poderíamos falar em transmutação da matéria, em máquina do tempo, em supersonia ou subvisão. Escolham. O único que poderia nos elucidar sobre o assunto é o próprio Asdrúbal que riu, sacudindo suas banhas amarelas, quando lhe perguntei como ele tinha conseguido ir da clareira da Floresta DumDum até a casa de sua mãe, sem usar nenhum meio de transporte conhecido.

Porque foi na casa da mãe do Asdrúbal que Borboleta Azul Neta passou os dois anos que se escoaram entre a Grande Batalha e o retorno de Asdrúbal à Floresta DumDum no verão de 292.

Temos em nosso poder o Diário de uma prisioneira, escrito por Borboleta Azul Neta durante este período e gentilmente cedido por Asdrúbal. Os direitos de publicação já foram adquiridos por nossa editora e os fascículos deste pungente depoimento logo estarão nas bancas.

Em primeira mão, vou citar alguns trechos muito elucidativos:

“58 de outono de 290 – Já se passaram sete dias desde “aquilo”. Resolvi escrever um diário para que as pessoas um dia saibam tudo por que passei, para eu não ter sofrido em vão. Quando eu vi, naquele dia, Asdrúbal vir em minha direção, senti uma sensação assim por dentro, uma coisa, um calafrio e fiquei ruim da vista. Passei a enxergar só as cores das coisas. Asdrúbal não era mais Asdrúbal era só Amarelo, o resto era uma confusão, o chão branco. Quando acordei já estava aqui com esta mulher horrorosa olhando para mim. Depois de vários truques e perguntas assim de como quem não quer nada, consegui descobrir que é a mãe “dele”. Eu sou fogo mesmo para descobrir as coisas… Meu Deus! O que será de mim?

2 de inverno de 290 – Hoje a comida deu uma melhorada. “Ela”  preparou um vatapá e de sobremesa tinha quindim. A situação continua a mesma e eu ainda não sei o que pretendem de mim. Estou desesperada.

25 de verão de 291 – A saudade das minhas coisas aumenta. Daqui a alguns dias vai fazer um ano que estou aqui. As condições da prisão são péssimas e a falta de exercício já me fez engordar três quilos. Asdrúbal cortou a sobremesa e a manteiga mas não adianta que nada confessarei!

23 de inverno de 291 – Hoje ouvi uns papos estranhos de Asdrúbal. Não entendi bem, quando entender escreverei.

25 de inverno de 291 – “Ele” agora teima em me torturar com sua presença horripilante quase todas as manhãs. Não aguento mais esta tensão. Na primeira oportunidade me suicidarei.

26 de inverno de 291 – Continuo a ouvir palavras estranhas que não ouso entender. Ouvi uns comentários entre “ele” e “ela” e “ele” dizia que ia embora outra vez. Quando “ele” entrou no quarto tentei disfarçar a emoção que me dominava e fingi nada saber, continuando a pintar as unhas do pé como se nada houvera. Mas… sê-lo-á?!”

Três dias depois deste último relato o Diário se interrompe. Provavelmente Asdrúbal percebeu que sua prisioneira mantinha este documento e se apoderou dele de imediato.
A desesperança, a angústia e o enclausuramento foram provavelmente as causas que levaram Borboleta Azul Neta a seu leito de morte. Deixou-nos seu triste exemplo, mais triste ainda se pensarmos que foi dessa maneira idiota que o mundo viu morrer o último exemplar de borboleta azul.

Ficou seu exemplo que não esqueceremos.

 

Décimo-primeiro capítulo

Nosso relato chega ao fim. Da Floresta DumDum e da Borboleta Azul Neta nada mais temos a acrescentar. Acabaram. Quanto a Asdrúbal ainda nos resta comentar seu retorno ao nosso meio, fato de que muitos de vocês, apesar da pouca idade, ainda devem se lembrar.

Surgiu o boato que Asdrúbal ia chegar na maré das seis. O fato do retorno de Asdrúbal ter se dado em dia de domingo, não de trabalho foi, como veremos, determinante no desenrolar do acontecido.

Asdrúbal de fato chegara. Tinha vindo em bloco de gelo, resquício ignóbil e frágil do grande iceberg sobre o qual pretendera desembarcar glorioso em qualquer lugar que o vento por bem o aportasse. Duas coisas não previra: o calor líquido a dissolver seu barco e um vento calhorda levá-lo justo para onde não devia, isto é, para a praia da Floresta DumDum que, domingo, estava apinhada de gente.

Houve outra imprevidência que o perdeu. Se bem que talvez seja menos imprevidência e mais crueza do destino. Essa crueza se chama Sapo Nando. É que exatamente o mesmo dia, o mesmo local e o mesmo vento tinham sido escolhidos pelo conspurcado editor do falido Mundão da Floresta para voltar de seu longo exílio.

O mínimo que se pode dizer é que tal coincidência transformou o retorno de Asdrúbal no ponto mais fácil de todo o livro de História Geral pois, é inútil negarmos, a imagem de Sapo Nando incógnito e de Asdrúbal no bloco de gelo chegando na mesma hora escorregadia de óleo de bronzear é bem propícia ao riso e às chacotas dos estudantes. Mas, o que se há de fazer? Foi o destino a empurrar vento e Sapo Nando contra as glórias de Asdrúbal.

Aqui entre nós, acredita-se que Asdrúbal pretendesse na verdade desembarcar em pompa e honra na Argentina, local que ele conhecera na infância. Mas isso é especulação que não pode ser provada e que é baseada unicamente no poncho e no livrinho de letra de tango com os quais Asdrúbal chegou em nossas plagas.
Esta chegada foi exatamente o que se poderia esperar em tais circunstâncias: um fiasco completo para Asdrúbal, para Sapo Nando e para o bloco de gelo, avidamente chupado por três crianças calorentas.

O maior prejudicado foi, sem dúvida, Sapo Nando.

De óculos escuros e escura barba postiça, não foi reconhecido por ninguém, o que o obrigou, lá pelas tantas, a arrancar uns e outra em gesto dramático, berrando:
— Sou eu! Voltei incógnito! Sou o Sapo Nando, mancha das letras pátrias, pária dos homens de letras! Me prendam! Ou me aclamem!

Recebeu um ou outro abraço envergonhado dos amigos mais chegados de antes de se perder pelos caminhos da loucura. Sapo Nando, antes tão influente, é visto agora gastando sua grande fluência verbal pelas ruas, saudando passantes desconhecidos, discursando para postes e provando na areia da praia seus talentos passados em decassílabos molhados. Uma lástima.

Para Asdrúbal, passados os primeiros momentos de indecisão, quando não sabia se devia se atirar de volta a água ou fingir que estava tudo bem, optou pelo último e rumou, sem que ninguém percebesse, direto para sua ex-toca, transformada em museu. Está lá até hoje, em cima da tabuleta “Monstro Amarelo”, é bem fácil de achar, logo na entrada à direita. Uma vez por dia ele faz o seu discurso em português, inglês e espanhol, é pago para isso:

— Senhores e senhoras, eu sou o legítimo Asdrúbal e eis a minha verdadeira história:
“Era domingo de sol no verão de 292, a praia apinhada com o povo a me esperar, mas eu já naquela época não estava mais para essas coisas. As duas viagens que eu havia feito ao exterior, a primeira já lá se vão tantos anos, a segunda, em 290 na casa de minha mãezinha, a meditar e a sofrer os primeiros males de amor, tinham me tirado um pouco da impetuosidade. Voltara à Floresta DumDum sim, mas desejando um posto calmo – no máximo de segundo escalão –  e não mais o peso da responsabilidade já vivido e experimentado. Foi isso que fiz ver ao povo que tanto esperava de mim. Foram momentos dramáticos que exigiram tirocínio e força de vontada para não levar a mim e a DumDum ao caos.”

— Amores? A que amores o senhor se referiu? – pergunta não raro um visitante estrangeiro.
— É um detalhe triste de minha vida. – responde invariavelmente Asdrúbal. – Mas um convívio forçado de dois anos me deu a ilusão de amar um inimigo, ou melhor, uma inimiga, a Borboleta Azul. Hoje não existem mais, extintas por não se adaptarem ao ambiente de nossa Nova Floresta, com suas ruas, seu movimento… Mas quem viu pode testemunhar: eram lindas, lindas…

E o discurso acaba sempre com um urro médio, suficientemente alto para impressionar os turistas, mas não tão alto que infrinja a Lei do Silêncio. Isso pode dar a impressão que Asdrúbal, o Monstro Amarelo, é apenasmente uma curiosidade histórica, algo a ser olhado depois do leque da Imperatriz Leopoldina e antes dos coches da Monarquia. Mas eu queria avisá-los para que nunca se esqueçam, nunca, que monstros não morrem e que são terríveis, terríveis!