Por escrito, 2014

ELVIRA VIGNA:  POR ESCRITO (Companhia das letras, 2014, 312p.)

– segundo lugar no Prêmio Oceanos;

–  finalista Prêmio Rio.

 

arquivos internos de ‘por escrito’:
críticas
críticas no exterior

 

 

 

 

 

 

vídeo de apresentação de cinco minutos (em cima de imagens do filme ‘deserto vermelho’, do antonioni):

 

 

 

 

 

 

 

Desenhos referentes ao livro.

Essa é a Molly.

De antes de eu chamar a Molly de Molly.

Fiz na época dos ‘contos da Izildinha’.

Explico isso no vídeo.

Deviam ter entrado no livro.

Mas acabaram não entrando.

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livescritogInício do livro:

 

É primeiro de janeiro e lembro disso por causa do passeinho que fizemos de manhã. Dormi na tua casa. Nesse dia ainda chamo tua casa de tua casa embora saiba que vá virar nossa casa logo depois. A que vai, não hoje, eu aqui escrevendo, mas a qualquer momento, virar tua casa outra vez.
Dormi na tua casa de véspera porque é isso que faço em caso de viagens, embora não assuma.
“Dorme aqui, te levo.”
“Não precisa.”
“Ah, precisa.”
“Bem, ok.”
“Ok.”
O diálogo mais uma vez repetido e mais uma vez as risadinhas, a minha e a tua, no entendimento de que não se trata só de carona para o aeroporto, mas de trepada, um queijo, tomates, vinho, o braço em cima de mim pelo menos nos primeiros minutos depois de a luz apagada, eu gostando do teu braço em cima de mim, o olho aberto adivinhando o teto por alguns minutos, talvez muitos, até que me viro, agora o olho aberto adivinhando a parede ao lado, umas apagadas rápidas num sono que nem parece sono. E a claridade da futura manhã. Você não fecha a persiana, então não me preocupo, chegam rápido, as manhãs na tua casa. São insônias confiantes, essas.
O avião sai às cinco e cinquenta da tarde, check-in às três e cinquenta, são sete e pouco da manhã e a cama, arrumada, tem, nesse dia, a maleta de mão já fechada em cima e, por cima da maleta, o casacão antiquado, pouco prático (branco), mas é o único, então é ele. Depois, no aeroporto, vou tomar nota do passeinho da manhã e é fácil dizer que não sei por que tomo nota, mas sei.
É a ideia de fim. Porque quando acabam, as coisas, tenho essa vontade de que não acabem, mesmo quando, como é o caso aqui, nesse dia e hoje, eu aqui sentada, as coisas não propriamente acabem, mas são acabadas, e por mim, que fico então com uma vontade de que não acabem.