Folha de Pernambuco

Livros infantis se equilibram entre literatura e educação para falar de assédio sexual
É uma tendência que vem com o avanço do movimento MeToo
Por WALTER PORTO, da Folhapress
26/06/20 às 14H02

Trecho:

Enquanto a obra de Martins é direcionada a adolescentes, há outras que buscam abordar a questão para crianças. Um deles é “Leila”, do escritor Tino Freitas e da ilustradora Thais Beltrame e que teve colaboração de Elvira Vigna nos primeiros estágios de concepção.

Na fábula, a baleia que dá nome ao livro vai contente à praia quando é importunada pelo polvo Barão, que, sem permissão, mexe em seu biquíni e acaba cortando o longo cabelo dela.

Freitas diz que buscou uma violência para a criança que não fosse explicitamente sexual. “Cortar o cabelo sem que se queira é uma agressão enorme. Se eu falo de abuso de forma clara, sem a metáfora, o que pode acontecer é a criança se sentir mal, com a realidade gritando no ouvido, ou dizer ‘isso não me interessa, não me aconteceu’.”

A figura da baleia cabeluda leva a uma identificação, mesmo que seja pela curiosidade. E o reino da fantasia permite abordar assuntos duros com segurança, em uma estrutura que emula o poder milenar dos contos de fadas.

No desenrolar do conto, a baleia Leila -uma referência a Leila Diniz- passa por um período de silêncio longo e pesado. Depois de se reerguer, ao encontrar de novo o abusador, ela grita bem alto que não permite aquele contato. “Eu não queria aquele beijo. Eu não gosto da sua companhia. Ninguém pode me tocar contra a minha vontade.”