Sobre páginas vazias
Elvira Vigna explora a fragilidade das narrativas diante do absoluto
VINICIUS JATOBÁ – O Estado de S.Paulo,
18 de maio de 2012 | 20h44
Elvira Vigna é a melhor ficcionista brasileira viva que só um reduzido número de leitores ouviu falar: há mais de uma década escreve romances sólidos e criativos, cada um deles diferente do anterior. Lendo Elvira fica evidente que este é o primeiro momento na história do País em que as mulheres escrevem com maior inventividade formal e temática que os homens.
O Que Deu Para Fazer em Matéria de História de Amor traz um olhar irônico acerca do vazio dos relatos diante de sentimentos absolutos, como as paixões e a solidão, que dominam o romance. A narradora repensa sua vida afetiva à luz do amor perfeito de um casal recentemente falecido, e enquanto escolhe o que ficará consigo entre os objetos de um apartamento a venda, elege o que fazer com a herança sentimental de guardiã da memória dos outros.
Ao longo de sua carreira, Elvira esteve mais preocupada com a atmosfera na qual relatos assim circulam e com o efeito dessa tal memória na vida das personagens. Seja a lembrança do amor, do assassinato de um pai, do adultério ou do retorno do exílio – pontos de partida da trama -, ela está sempre mais ocupada com a relação que seus protagonistas, após o ocorrido, têm com suas próprias histórias do que em torná-las visíveis. Seus livros apontam a maneira de como lidar com essa defasagem – são como compêndios instáveis de romances não escritos.