Excelente post sobre o Nada a dizer, do Hernandes.
Livro de Elvira Vigna ilustra uma classe média soturna vítima de dores que são democráticas com todos
Meu primeiro contato com a obra deixada por Elvira Vigna não poderia ser melhor. Não consigo dizer como cheguei a “Nada a Dizer”, seu livro lançado em 2010, mas fico agradecido pelo meu ano terminar com uma introdução a uma autora que escreve de forma prática e real, expondo sentimentos que até o mais insensível dos mortais consegue sentir.
Tratando de uma história sobre um adultério, o livro é um diário escrito pela mulher traída (que sequer sabemos o nome) contando sobre a descoberta da relação extraconjugal entre o seu marido Paulo e N. Sim, conhecemos a amante por somente uma consoante.
O livro da autora carioca é como um conto de uma classe média soturna, escolarizada, com ótimas referências e também com seus problemas particulares. A mulher traída e seu marido Paulo formam um casal de meia-idade dono de uma empresa de tradução que, após passar por diversas cidades do Brasil, se estabelece desta vez no centro de São Paulo.
N., a amante, é muitas vezes descrita pela mulher traída como alguém de relevância na alta sociedade do Rio de Janeiro. De família rica, N. é casada com Antônio Carlos, com quem vive uma vida confortável no Leblon, cuidando de seus filhos, e, aparentemente, sem nenhum interesse de mudar essa situação para assumir algum relacionamento com Paulo.
A descoberta da traição de Paulo faz a mulher relembrar todas as outras vezes que o marido também foi infiel. Essa viagem ao passado a faz se questionar o que ela representa para aquele homem, como os outros e ela própria se vê. Uma imbecil, uma vítima ou uma merecedora de toda essa infidelidade?
O final da história pode ser decepcionante para algumas pessoas. Mesmo após a descoberta da traição, o divórcio não seria vantajoso para nenhum dos dois. O livro se encerra sem uma conclusão, mas realmente não faz sentido existir alguma, pois toda a obra é claramente um espaço em que a mulher traída encontrou para tirar de suas costas toda a dor por não ser tão amada assim.