ELVIRA VIGNA: A UM PASSO (Lamparina, 2004, 188p.).
– projeto Mais Leitura, 2014.
arquivos internos de ‘a um passo’:críticas
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Capítulo 1:
É um sofá velho e sujo e a moça está olhando para ele como quem pensa como o sofá é velho e sujo e o gringo então diz, ainda da porta:
“O sofá é velho e sujo.”
Mas a moça dá de ombros e, alteando as sobrancelhas, responde com desdém – não pelo sofá mas pelo homem baixo, seco, que surgia:
“É um chippendale.”
Só que o chippendale sai chipeindeile e o gringo sorri. Ahhh. É das suas. E vai se chegando já sabendo que por qualquer pulseirinha de ouro de baixa qualidade aqueles olhinhos maquiados irão brilhar e aquela boca grande cheia de baton fará o que ele mandar.
A boca fala e gringo, fingindo chegar perto para examinar melhor o sofá, vai chegando perto. Até sentir o cheiro do desodorante, porque é essa a sua medida: na primeira chegada, o limite de aproximação é o cheiro do desodorante.
A moça alisa o estampado com uns dedos nervosos, promissores e o gringo olha o estampado que o espantava sempre, jacarés de rabo levantado, marron, entrelaçados com enormes flores tropicais de todas as cores, e então fica fácil fingir o espanto que deveras sente.
“O fingidor.. o fingidor..”
E tenta recitar Pessoa usando cara de talk-show de tv, não porque acha que vai cair bem (não é o caso de se esforçar muito para impressionar a dama presente), mas simplesmente porque lembrou da estrofinha. Lembrou é maneira de dizer, além da palavra fingidor, não está saindo mais nada.
Gringo balança o uísque, a moça faz hein.